terça-feira, 18 de junho de 2024

Não confundir!


Há que não confundir o olho do cu
Com a feira de Castro. Alguém que viu
A mãe nua, banhar-se, pode reclamar 
Ser neurótico,  histérico, mesmo
Vítima da iniquidade dos deuses,
Ou da possessão de demónios; contudo, a poesia
Não é uma forma de adiar o suicídio.

Há que temer partilhar as emoções 
Do vulgo e continuar a jantar nas alfaias
Em uso. Não há palavras que caiam
Em desuso, apenas frases que não conseguem 
Acomodá-las, como pintor que erra um nariz
Por não o poupar à sombra dos olhos.

(...)

Que as galinhas tenham três patas,
Alguém recusará ouvir tais histórias,
Ser iludido pelo encanto das fábulas? Quem
Duvida que é o vento, que à chegada
Do Outono, ensina cor às folhas das árvores?


OLIVEIRA, José Carlos, Meditação Décima Nona in De passagem, Porto, Assírio e Alvim, 2018, pp.55-56.




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