Há que não confundir o olho do cu
Com a feira de Castro. Alguém que viu
A mãe nua, banhar-se, pode reclamar
Ser neurótico, histérico, mesmo
Vítima da iniquidade dos deuses,
Ou da possessão de demónios; contudo, a poesia
Não é uma forma de adiar o suicídio.
Há que temer partilhar as emoções
Do vulgo e continuar a jantar nas alfaias
Em uso. Não há palavras que caiam
Em desuso, apenas frases que não conseguem
Acomodá-las, como pintor que erra um nariz
Por não o poupar à sombra dos olhos.
(...)
Que as galinhas tenham três patas,
Alguém recusará ouvir tais histórias,
Ser iludido pelo encanto das fábulas? Quem
Duvida que é o vento, que à chegada
Do Outono, ensina cor às folhas das árvores?
OLIVEIRA, José Carlos, Meditação Décima Nona in De passagem, Porto, Assírio e Alvim, 2018, pp.55-56.
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