quinta-feira, 13 de junho de 2024

Sonho de núpcias

 Eu punha no teu lábio a nota quente,

A música vibrante dos desejos,

Poisava-te no colo branco, ardente,

O poema rendilhado dos meus beijos.


Ao íntimo contacto desses beijos,

Erguia-se em volutas de serpente

A curva delicada, alvinitente,

Das tuas formas, trémulas de pejos.


Senti então, alucinado e mudo,

O elo dos teus braços de veludo

Cingir-me contra a carne feiticeira.


E sobre o véus de gaze delicado,

Murchavam na capela doo noivado

Os albentes botões da laranjeira...


Augusto Gil - Obra Poética, 1.º vol., Lisboa, Círculo de Leitores, 1983, p. 16.

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