Depois o pé – o meu – sobre o teu pé
Logo o roçar urgente do joelho
E o ventre mais à frente da maré
É a onda do ombro que se instala
É a linha do dorso que se inscreve
A mão agora impõe, já não embala
Mas o beijo é carícia, de tão leve
O corpo roda: quer mais pele, mais quente
A boca exige: quer mais sol, mais morno
Já não há gesto que se não invente
Audácia que não ache um abandono
Então já a maré subiu de vez
É todo um mar que inunda a nossa cama
Afogados de amor e de nudez
Somos a maré-alta de quem ama
Por fim o sono calmo, que não é
Senão ternura, intimidade, enleio:
O meu pé descansando no teu pé
É todo um mar que inunda a nossa cama
Afogados de amor e de nudez
Somos a maré-alta de quem ama
Por fim o sono calmo, que não é
Senão ternura, intimidade, enleio:
O meu pé descansando no teu pé
A tua mão dormindo no meu seio
ROSA LOBATO DE FARIA in PEDREIRA, Maria do Rosário, DUARTE, Aldina, Esse fado vaidoso, Lisboa, Quetzal, 2022, p. 214.
Vamos ouvir o poema transformado em fado? Voz de CAMANÉ:
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