Para a redenção do dia, conheço
O suspiro que carregas,
Pouco a pouco
Mais refeita dos prodígios penitentes,
Das voltas completas
Em torno da corpulenta fantasia.
Porque idêntico o nosso fôlego,
Conheço essa dor crónica,
Também a gravidade do corpo
Que se desterra
E despe do mundo,
Esse zelo de evasão sem repulsa ou bravura:
Procuras atalhos para os frutos
De outras estações
Que se podem colher ainda no outono,
Segues vidas perdidas numa gare
Ou num cais,
Reencontradas, por vezes,
Nos degraus de uma livraria em Santos,
E sabes como trocar solitariamente as direcções,
Quando o vento se levanta
Ao início da noite,
E as sementes da primavera
Voltam a deflagrar-te em profuso assombro.
TAVARES, Paulo, Órbitas, Porto, Assírio e Alvim, 2023, pp. 44-45.
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