Mas a liberdade mesmo chegou ontem, sábia e cálida como as avós, cheirando a sândalo, cheia de títulos baptismais, de segredos milenares e de mistérios infinitos: os nossos livros. (…) Ler é silenciar o que não deve ser ouvido. Ler é calar o ruído do silêncio, esse que ensurdece. Ler é habitar o dia seguinte esculpido na nossa mente. Ler é o início do enigma. Ler é tirar e pôr em simultâneo. Ler é esvaziar o perpetuamente cheio. Estamos em plenitude. Voltar a ver, ou a ler, ou a ter um livro entre as mãos é dos mais belos reencontros que o ser humano pode vivenciar, seja na liberdade, seja no cativeiro. Para os livros não há cativeiro. Mesmo fechado, é sempre um mundo de braços abertos.
SOUSA, Lúcio Sousa, O Diabo foi meu padeiro, Alfragide, D. Quixote, 2019, p. 104.
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