terça-feira, 2 de novembro de 2021

Visto e não visto

 As pessoas tendem a desaparecer.

 Um dia fazem-nos rir e depois já não estão.

 

Um dia telefonam-nos todos os dias

para saber como estamos,

e agora já não consegues sequer lembrar-te das suas vozes.

 

Um dia disseram sempre

e sempre acabou por ser nunca mais.

 

As pessoas parecem-se com fantasmas.

Aparecem, seduzem, acreditamos neles,

assustam, brilham e desaparecem.

 

Partem, e, de repente, já não existem,

como se nunca tivessem existido.

Chegamos a convencer-nos de que os sonhámos.

 

Eu sou um deles.

 

Morrer, no nosso caso,

é uma redundância.

 

PIQUERAS, Juan Vicente, Instruções para atravessar o deserto - poemas escolhidos, Porto, Assírio & Alvim, 2019, p.125.

Sem comentários: