As pessoas tendem a desaparecer.
Um dia fazem-nos rir e depois já não estão.
Um dia telefonam-nos todos os dias
para saber como estamos,
e agora já não consegues sequer lembrar-te das suas vozes.
Um dia disseram sempre
e sempre acabou por ser nunca mais.
As pessoas parecem-se com fantasmas.
Aparecem, seduzem, acreditamos neles,
assustam, brilham e desaparecem.
Partem, e, de repente, já não existem,
como se nunca tivessem existido.
Chegamos a convencer-nos de que os sonhámos.
Eu sou um deles.
Morrer, no nosso caso,
é uma redundância.
PIQUERAS, Juan Vicente, Instruções para
atravessar o deserto - poemas escolhidos, Porto, Assírio & Alvim, 2019, p.125.
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