quarta-feira, 31 de agosto de 2022
Finalmente
Sinto-me livre,
sou mulher
saí da concha!
A pérola fugiu
e a diabinha surgiu...
De recatada
a atrevida,
mudei do 0 ao 100
sem sequer passar pelo 80
ao descobrir um admirável mundo novo!
Transformação radical
para saber o que é o pecado original
agora resta saber
se algum dia chego aos teus pés ;)
Xpto
segunda-feira, 29 de agosto de 2022
À PROCURA DA FELICIDADE
Não ando à procura de volúpia, ando é à procura da felicidade e a volúpia sem felicidade não é volúpia.
KUNDERA, Milan, A Insustentável leveza do ser, Alfragide, D. Quixote, 32.ª edição, 2015, p.261.
domingo, 28 de agosto de 2022
sábado, 27 de agosto de 2022
"The house of life"
Como Rosseti resgatando a dádiva de amor
verso a verso ao corrupto corpo
de Elizabeth Eleanor, o escritor
é um ladrão de túmulos. E é um morto
dormindo um sono alheio, o do livro,
que a si mesmo se sonha digerindo
sua carne e seu sangue e dirigindo
a sua mão e o seu livre arbítrio.
Quem construiu a sua casa? Quem semeou
a sua vida, quem a colherá?
Nem a sua morte lhe pertence, roubou-a
a outro e outro lha roubará.
Toma, come, leitor: este é o seu corpo,
a inabitada casa do livro,
também tu estás, como ele, morto,
e também não fazes sentido.
PINA, Manuel António, Os Livros, Lisboa, Assírio Alvim, 2003, p. 49
Canto peninsular
Estar aqui dói-me. E eu estou aqui
há novecentos anos. Não cresci nem mudei.
Apodreci.
Doem-me as próprias raízes que criei.
Foi a guerra e a paz. E veio o sol. Veio e passou
a tempestade.
Muita coisa mudou. Só não mudou
este monstro que tem a minha idade.
E foi de novo a guerra e a paz. Muita coisa mudou
em novecentos anos.
Eu é que não mudei. Neste monstro que sou
só os olhos ainda são humanos.
Quantas vezes gritei e não me ouviram
quantas vezes morri e me deixaram
nos campos da batalha onde depois floriam
flores e pão que do meu sangue se criaram.
Andei de terra em terra
por esse mundo que de certo modo descobri.
E fui soldado contra a minha própria guerra
eu que fui pelo mundo e nunca saí daqui.
Mil sonhos eu sonhei. E foram mil enganos.
Tive o mundo nas mãos. E sempre passei fome.
Eis-me tal como sou há novecentos anos
eu que não sei escrever sequer o próprio nome.
Falam de mim e dizem; é um herói.
(Não sei se por estar morto ou porque ainda não morri.)
Mas nunca ninguém disse razão por que me dói
estar aqui.
ALEGRE, Manuel, Praça da Canção, Lisboa, 5.ª edição, D, Quixote, 2015, pp. 45 -46.
Gazela
um baloiço-para-auras repousava num livro.
o livro era uma marionete de sonhos a brincar de realidade [a realidade está manchada de acrobatas que salvam as redes...]
um dia fiz um desenho complicado para ser simples: pus olhos inquietos, mãos mágicas, três margens da mesma aura dançante, fios de cabelo prateados, peugadas de gazela, meias-luas, dois pedaços de timidez, monstrinhos e provocações; ah!, também pus segredos literários cifrados e atalhos sem sinalização para quem frequente a imaginação. tinha cheiro de território. havia qualquer coisa de margem no desenho.
ONDJAKI, Materiais para confecção de um espanador de tristezas, Editorial Caminho, 2009, p 48.
quinta-feira, 25 de agosto de 2022
Amanhã, meu amor
Amanhã, meu amor, já não terás de ver nos meus olhos
o reflexo das velas cansadas da viagens; nem das aves
que sobrevoaram o cais, mas, por descrerem do verão,
desistiram de perseguir os barcos que se foram a um país
de sol. E não terás também de ver as minhas lágrimas, porque
uma mão maior virá cerrar-me as pálpebras para esconder
deste mundo que a morte nunca chega para quem ama.
PEDREIRA, Maria do Rosário, Poesia reunida, Lisboa, Quetzal, 2012, p.113.
quarta-feira, 24 de agosto de 2022
Com indiferença
E por fim a manhã talvez comece
debaixo duma pedra
ou da noite escorra sobre as primeiras
violetas ou as últimas que sei eu.
Embora seja inverno desde há muito
a vocação das folhas é ser ave
ou música quando no vento
arde o coração da cal.
Ou o meu o meu.
ANDRADE, Eugénio de, Véspera da água, Porto, Assírio e Alvim, 2014, p. 62.
segunda-feira, 22 de agosto de 2022
Esperar-te
A verdade é que eu já não tinha idade
(nem palavras) para esperar-te,
começava a fazer-se muito tarde
e morria sozinho sem ninguém com quem falar de
mim. Os sonhos da infância
vagueavam inúteis pelos cantos
e eu transformava-me entretanto
em algo parecido com eles, da mesma susbstância.
PINA, Manuel António, Todas as palavras - poesia reunida, Porto, Assírio e Alvim, 2012, p. 170.
sábado, 20 de agosto de 2022
X
Assexuada
Despertada
Atracção
Sem relação
Colorir a sina
Aumentar a crina
Assim não há espinha
Apenas revolução
Xpto
Lua e noite
Hospedo-me hoje nesta cabana
amanhã serei hóspede
da lua
A noite escuta com a mesma indiferença
a toada soada do monge
e a canção roca das prostitutas
MENDONÇA, José Tolentino, Papoila e o monge, Assírio e Alvim, 2019, pp. 62-63.
Somente amando poderemos saber se o amor existe ou não
HAY, Louise , HOLDEN, Robert, A vida ama-me, s.l., Pergaminho, 2015, p. 167.
sexta-feira, 19 de agosto de 2022
quarta-feira, 17 de agosto de 2022
Afinal ;D
Afinal não és não;
És furacão,
Um leão
cheio de tensão
Que me trouxe revolução
Através da atração
e me deu outra visão.
A minha condição
deu cabo do serão
apesar de toda a inovação!!!
Muita apreensão,
Demasiada contrição...
Contudo feliz por ser motivo de excitação,
Ansiando por repetição,
Desde que não haja hospitalização
XPTO