sábado, 27 de agosto de 2022

"The house of life"

Como Rosseti resgatando a dádiva de amor

verso a verso ao corrupto corpo

de Elizabeth Eleanor, o escritor

é um ladrão de túmulos. E é um morto


dormindo um sono alheio, o do livro,

que a si mesmo se sonha digerindo

sua carne e seu sangue e dirigindo

a sua mão e o seu livre arbítrio.


Quem construiu a sua casa? Quem semeou

a sua vida, quem a colherá?

Nem a sua morte lhe pertence, roubou-a

a outro e outro lha roubará.


Toma, come, leitor: este é o seu corpo,

a inabitada casa do livro,

também tu estás, como ele, morto,

e também não fazes sentido. 


 PINA, Manuel António, Os Livros, Lisboa, Assírio  Alvim, 2003, p. 49

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