Quando a noite vier, e a relva se parecer
com o mar, e as ondas se parecerem
com os arbustos do jardim, e o teu
rosto se parecer com o que foi suposto
e o meu rosto se parecer com o que
deveria ser, e os livros contarem
o que deveria ser vivido, e a vida
se aproximar do sonho que foi
sonhado, e esse sonho se parecer com o
que irá acontecer na manhã seguinte
e o ouvinte julgar que escutou
o que está prometido desde aquele
tempo e desde aquela parte, e a criança
se parecer com o homem que há-de haver
e a mulher com a criança feita que lhe
prometeram ter, as pálpebras descidas
parecer-se-ão com o sol entrando no horizonte
e tudo terá a mesma origem, tudo se reunirá
na mesma fonte, e os sete mil milhões conhecerão
a imagem de quem sem saber são pajem.
JORGE, Lídia, O Livro das tréguas, Lisboa, D. Quixote,2019, p. 28.
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