quarta-feira, 8 de março de 2023

Mulheres do Alentejo

Mulheres do Alentejo

com papoilas nos olhos

são primaveras erguidas

contra os bastões contra as balas

oculto o rosto

seus negros chapéus descidos

frente ao sol

o claro choro nas mãos

com bagos de amanhã.


São cor de terra

cor do trabalho

cor da habituação à dor.


Nossa Pátria do sofrimento

e do valor

meu sinal de luz

em toda a palavra que escrevo

meu território do regresso e do futuro

minha praia de secura

percorrida pelo ódio e pelo pânico


Eis o ardente povo torturado 

esperança viva de um sonho feito carne

mulheres searas fontes azinheiras 

nossa esperança, ainda em flor e fruto

no vermelho das feridas deste País de Abril.



RODRIGUES, Urbano Tavares, Poesia - Horas de vidro, Alfragide, Publicações D. Quixote, 2010,  pp. 36-37

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