segunda-feira, 29 de abril de 2024

Dentro de mim há um só vácuo, um deserto, um mar nocturno

PESSOA, Fernando, Tenho medo de partir - um livro de viagens, Lisboa, Guerra e Paz, 2018, p.74


Não e nunca



Não desembarcar não tem cais onde se desembarque. Nunca chegar implica não chegar nunca.

Bernardo Soares  - PESSOA, Fernando, Tenho medo de partir - um livro de viagens, Lisboa, Guerra e Paz, 2018, p. 175.


domingo, 28 de abril de 2024

Que fortuna?


Que fortuna a de poder redobrar os sentidos, multiplicar tudo pelo infinito, através da arte, virtude de se ser ou tornar humano.

 MÃE, Valter Hugo, Contra mim, Porto, Porto Editora, 2020, p. 281.



sábado, 27 de abril de 2024

Vinha a crescer





 Quinta do Valbom, Évora 

Ergui meu grito

DO VENTRE DA BALEIA ERGUI MEU GRITO:

Senhor! (dizer teu nome só é bom),
Em fé, em fé o digo, mesmo com
Um coração pesado e contrito
Que és de tudo verdade e não mito,
O coração do amor, de todo o dom,
Conquanto seja raro o bem e o bom
E toda a luz aqui me falhe, és grito
Que chama toda a chama de esperança 
E acorda a luz que resta à réstia eterna,
Conquanto viva o mártir na espelunca
Da vida (quem espera amiúde alcança)...
Possa o nazireu preso na cisterna
Sofrer de ser só tarde mas não nunca.




 JONAS, Daniel, Nó - sonetos, Porto, Assírio e Alvim,2014, p. 9.

sexta-feira, 26 de abril de 2024

A festa da democracia




 Praça do Geraldo de Évora 

Décadas


Décadas a percorrer o caminho a sós 
Dias a sangrar
Semanas a sofrer sem o saber
Ingenuidade a perder
Apetite a ganhar
Para depois ter de esperar?
Tu dizes para eu trocar
Só que bom eu quero apostar 
Eu não me importo de ter
Caminho feito para ti
Enquanto exploras outros
Mas custa-me ficar no outro lado...
No lado do esquecimento 
Sem ter alimento 
Meses sem fim
Agora que sei o que perdi, 
E que visão adquiri
Sinto-me ainda mais só 
Excluída do direito de amar
E de gozar 
Tanto que gosto de vivenciar
Só deixa de ter graça 
Acordamos ocasional
Liberdade total 
Mas chega ao Natal
E eu sem ver ou beijar
Quando passei tormento 
Houve mais acontecimento
Agora só uma num ano?
Para mim é uma desilusão 
Cheiras tanto a prazer
Sinto que me castigas 
Com reduzido número de sensação 
Sabe a pouco
Não me zango por isso 
Apenas me entristeço
Demasiada ânsia por viver
Crescer
Evoluir
Causa-me mágoa 
A meia dúzia 
Ninguém merece 
Meu Criador
De mulher
Poetisa...

Xpto

A Liberdade

A liberdade, que às vezes se confunde com o orgulho, é o valor que mais prezo. Leio nos olhos de qualquer pessoa se é livre ou não é. A maior parte vive sempre de cabeça curvada perante alguém; outros há que vivem a pedir perdão de existir aos que os rodeiam.. Sei quando estou perante um igual, alguém que é naturalmente livre. Dificilmente se aprende a sê-lo, mas pode conseguir-se.

É evidente que, para circularmos no território das práticas sociais, há que respeitar um mínimo de convenções. E fazer com segurança e limpeza o trabalho que nos cabe. Mas não tenho a menor dedicação à  empresa que me paga. Limito-me a cumprir, faço sempre o melhor que sei por respeito por mim próprio e para me ver livre desse fardo.

 

RODRIGUES, Urbano Tavares, Prosa - O Eterno Efémero, Alfragide, Publicações D. Quixote, 2011,  pp. 118-119.

A pedra

 Amo o espaço e o lugar, e as coisas que não falam.

O estar ali, o ser de certo modo,

o saber-se como é, onde é que está, e como,

o aguardar sem pressa, e atender-nos

da forma necessária.

 (...)



Põe-se a pedra na mão, e a pedra pesa,

pesa connosco, forma um corpo inteiro.

Fecha-se a mão, e a mão toma-lhe forma,

conhece a pedra, entende-lhe o feitio,

sente-a macia ou áspera, e sabe em que lugares.

Abre-se a mão, e a mesma pedra avulta.



GEDEÃO, António, Poemas - Uma antologia bilingue, Lisboa, Palavrão - Associação Cultural, 2015, p.134

quinta-feira, 25 de abril de 2024

She loves freedom




 

Já não há mordaças, nem ameaças, nem algemas

Já não há mordaças, nem ameaças, nem algemas

que possam perturbar a nossa caminhada,

em que os poeras são os próprios versos dos poemas

e onde cada poema é uma bandeira desfraldada.

(...)


Sidónio Muralha in  O povo, meu poema, te atravessa -Antologia poética de língua portuguesa nos cem anos da revolução de Outubro, Porto, Modo de ler, 2018, p. 58.

25 de Abril sempre




 Ponte 25 de Abril, 16 de Março de 2023

Solidão e auto-conhecimentl


(...) antes de encontrar alguém disposto a aturar-me, vivi dezassete anos sozinha. Foi um período importante de auto-conhecimento (temos mais tempo para olhar para nós e por nós) em que descobri que solidão e silêncio são coisas de que todos deveriam desfrutar.

(...)

De qualquuer modo (...) era muito raro passar um dia inteiro em casa: saía para tomar um café, fazer compras ou dar um passeio. E via pessoas, mesmo que não fossem conhecidas.

(...)

Não vou mentir: agora, que já sei como é, gosto dez vezes mais de viver acompanhada.


 PEDREIRA, Maria do Rosário, Adeus, futuro, Lisboa, Quetzal, 2021, p. 165.

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Praça da Canção

(...)

Minha canção festa triste

praça nocturna por onde

passam às vezes sem rumo.

ó canção ó vento ó noite

dizei-lhes vós que lhes falta

descobrir este país

por onde perdidos vão.


ALEGRE, Manuel, Praça da Canção,Lisboa, 5.ª edição, D. Quixote, 2015, p. 55.

Enquanto não ganharem consciência jamais se revoltarão, e enquanto não se revoltarem não poderão ganhar consciência

ORWELL, George, 1984, Alfragide, D. Quixote, 2019, p. 81.

terça-feira, 23 de abril de 2024

Pormenores da sacristia







 Igreja de São Francisco de Évora 

Desfrutar aquele lugar naquela hora

... todos nós possuímos um segredo, onde saber que não existia outra situação  que nos fizesse tão felizes como esta de estar a desfrutar aquele lugar naquela hora.


CADILHE, Gonçalo, Por este rio acima - No primeiro trekking da História de Portugal, Lisboa, Clube do Autor, 2020, p. 56. 

segunda-feira, 22 de abril de 2024

domingo, 21 de abril de 2024

Aquilo que eu ouso

Anfiguri

Aquilo que eu ouso
Não é o que eu quero
Eu quero o repouso
Do que não espero. 

Não quero o que tenho
Pelo que custou
Não sei de onde venho
Sei para onde vou.

Homem, sou a fera
Poeta, sou um louco 
Amante, sou pai.

Vida, quem me dera...
Amor, dura pouco...
Poesia, ai!...


MORAES, Vinicius de, Antologia Poética, São Paulo, Companhia das Letras, 2019, p. 187