Porque razão, como perguntava Eduardo Lourenço, há esta necessidade de crucificar o passado português. A razão é ideológica e política. Por isso,(...) a informação não entra nem passa. Há pessoas, dentro e fora da academia, que são impenetráveis a um conhecimento actualizado sobre história da escravatura, porque usam uma couraça chamada ideologia.(...)
Há, ainda assim, que continuar a tentar mostrar o que aconteceu e como aconteceu, mais para esclarecer a opinião pública do que para tentar convencer quem não quer ser convencido. É inútil mostrar a história a quem está barricado na ideologia.
No tempo de Salazar, a propaganda do regime fazia dos antigos portugueses os melhores do mundo, heróis sem defeito e sem mácula. Agora os combates ideológicos da extrema-esquerda politicamente correcta empurraram-nos para o lado oposto e os nossos antepassados passaram a ser os piores do mundo, os facínoras por excelência, os inventores da pior das escravaturas (...) Será possível termos uma visão equilibrada e sobretudo contextualizada do passado?
MARQUES, João Pedro, Combates pela verdade - Portugal e os escravos, Lisboa, Guerra e Paz, 2020, p.91-92.
Sem comentários:
Enviar um comentário