sábado, 2 de julho de 2011

Horas mortas...


Horas mortas... Curvada aos pés do monte
A planície é um brasido... e, toruradas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a benção duma fonte!


E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!


Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!


Árvores! Não choreis!
Olhai e vede: -Também ando a gritar morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!


(Florbela Espanca, Vol. II, Poesia, p. 203)


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