São como sombras tristes, são como o outono.
Pode olhar-se para dentro das cruzes ao longo
das estradas, são como poços, são como filhos
perdidos. As cruzes ao longo das estradas estão cobertas por flores de plástico, secas, desbotadas
pela luz que, nos campos, brinca com os rostos
e com a memória. existem linhas traçadas entre
o céu e as cruzes ao longo das estradas, são elas
que seguram uma parte do mundo, só os pais são
capazes de as ver.
Agora, enquanto falamos de papagaios de papel,
elas estão lá, onde sempre estiveram.
As cruzes ao longo das estradas são diferentes
de nós porque se nós somos o vento e passamos,
as cruzes ao longo das estradas também são o vento,
mas há muito tempo que conseguiram chegar lá.
PEIXOTO, José Luís, Gaveta de papéis, 2.ª edição, Quetzal, 2011, p. 35.
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