Esta noite vivi
um milhão de anos
e um milhão de vidas
Já aqui estive antes
sabes, amor?
Ora olha-me nos olhos...
Sete anos habitei o templo perdido do amor
Sete anos um deserto de palavras
Sete anos o exílio a que a escrita me condenou
Mas esta noite vivi
um milhão de anos
e no meu corpo pus um milhão de vidas
com a maquinaria da noite
rodando as suas enormes rodas dentadas
no interior da humanidade
A noite nas veias do homem é solitário
que sabe que para chegarmos a deus
precisamos de velocidade
e novos ângulos de visão
A noite nas veias do homem solitário que sabe
mas não diz
Está sempre à espera que lhe batam à porta
pois esse é o drama de viver
com tanta gente à volta
Esta noite vivi
um milhão de anos
e no meu corpo pus um milhão de vidas
com a noite nas veias
e no meu respirar
o bafo quente das estrelas.
PIMENTA, José António, Deixa entrar a noite na palavra, Coimbra, MinervaCoimbra, 2019, p. 34-35.
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