sábado, 19 de novembro de 2022

Noite de sonho voada

 Noite de sonho voada

cingida por músculos de aço

profunda distância rouca

da palavra estrangulada

pela boca amordaçada

noutra boca

ondas do ondear revolto

das ondas do corpo dela

tão dominado e tão solto

tão vencedor, tão vencido

e tão rebelde ao breve espaço

consentido

nesta angústia renovada

de encerrar

fechar

esmagar

o reluzir de uma estrela

num abraço

e a ternura deslumbrada

a doce funda alegria

noite de sonhos voada

que pelos sei olhos sorria

ao romper de madrugada:

- Ó meu amor, já é dia!...


FONSECA, Manuel, Obra poética, Alfragide, Caminho 11.ª ed., 2011, p.176.

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