Ao nosso lado os mortos em surdina
Bebem a exalação da nossa vida.
São a sombra seguindo os nossos gestos,
Sinto-os passar quando leves vêm
Alta noite buscar os nossos restos.
Passam nos quartos onde nos deixamos,
Envolvem-se nos gestos que traçamos,
Repetem as palavras que disssemos,
E debruçados sobre o nosso sono
Bebem como um leite o nosso sonho.
Intangívei, sem peso e sem contorno
Ressurgem no sabor vivo do sangue.
Sorriem às imagens que vivemos
E choram por nós quando não as vemos,
Porque já sabem para aonde vamos.
ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, Obra do mar, Caminho, 5.ª edição, 2005, p. 80
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