Gente pobre é caprichosa - assim está feita a natureza. Já antes o sentia. O homem pobre é exigente, olha para o mundo de Deus de outra maneira, olha de soslaio para cada transeunte, passa ao seu redor um olhar confuso, a cada palavra que ouve fica alerta: não estarão a falar dele, a contar porque é tão feio? O que é que, exatamente, ele sente? Como é ele deste ponto de vista, daquele ponto de vista? E toda agente sabe que o homem pobre é pior do que um trapo que não merece respeito da parte de ninguém, escrevam o que escreverem... Seja o que for que esses escrevinhadores escreviam o pobre continua sempre na mesma. E porquê na mesma? Porque, na opinião deles, o homem pobre deve ter tudo virado do avesso, não pode esconder nada no segredo da alma, não pode ter, nem pensar! qualquer ambição.
DOSTOIÉVSKI, Fiódor, Gente pobre, Lisboa, 3.ª edição, Editorial Presença, 2021, p. 85.
Sem comentários:
Enviar um comentário