sexta-feira, 31 de maio de 2024
Estupidez versus sensatez
E se a morte me despisse
quarta-feira, 29 de maio de 2024
Esperar, não esperar
Portimão |
Vai pelo cais fora um bulício de chegada próxima,
domingo, 26 de maio de 2024
sexta-feira, 24 de maio de 2024
Um grão de areia
Praia da Cruz Quebrada |
Quem entende a areia?
Estende-me os braços, distende num sorriso
O breve chão aviso, que é canto de sereia:
"- Estou por ti, contigo.
Retenho do teu corpo
quanto basta
porque o que alastra para lá da tua sombra,
a praia, o perifrástico mar
e o que arredonda o teu olhar (minúsculo globo cariciando o desmedido por sondar)
nenhuns passos o abastecem todo.
por mais que o afrontes
a epiderme do espaço não macularás.
Mas pela minúcia do olhar que eu te souber captar
serás ditoso.
por isso esconde-te onde caibas
E estuda-me indulgente.
Este grão, este projecto milimétrico de chão
Sou eu em peso.
Em esforço. Omito
a hecatombe, a luta e os escombros
da turbada erosão.
Esqueço-me das delongas, mas a ti
não te esqueço.
Da concha à concha da tua mão
foi uma insignificante fração no rebordo do tempo.
O mais que invento
Um ranger um queixume
entende os tal qual são:
vícios da solidão, sufocações de ontem
Solipsismos, crispações
ciúme do teu cobiçar o frio dos horizontes."
Eu vejo-a e escuto. A respiração da areia.
Quando se suspende e oculta, esquiva e reticente,
Distingo do seu eco o húmido fermento
que abasta nestes versos.
e se então me ergo da jazente toalha que a mim me retivera
no côncavo onde me coube o corpo
e a poalha do seu ventre austero
sacudo como quem expulsa o ócio
e periférico já
regresso por perímetros deletérios
à rotação ensossa
dos dias, dos revérberos
das montras dos destroços
e, por hipótese quimerica, descubro algures
minusculamente
entre mim e o chão
um deserdado grão de areia
registo a discrição do recado
e lanço o à pressa do vento.
Sem remorso.
TORRADO, António, Das coisas interiores, Lisboa, Glaciar, 2022, p. 247-248.
quinta-feira, 23 de maio de 2024
Não pertences ao futuro nem ao passado
KAUR, Rupi, Corpo casa, Alfragide, Lua de Papel, 2021, p. 177.
quarta-feira, 22 de maio de 2024
Que faremos nós?
Que faremos nós, crentes na arte da vida,
Tão sós e tão dispersos pela floresta?
TAVARES, Paulo, Os conquistadores: um sonho, Órbitas, Porto, Assírio e Alvim, 2023, p. 77.
Humanismo abolicionista de Pombal
... há um segundo alvará de Pombal, o de 16 de janeiro de 1773, que pôs fim, de forma gradual, à escravidão no território de Portugal, e cujo fundamento é humanitário. Esse humanitarismo abolicionista de Pombal não caiu das nuvens. Começava a emergir, na Europa ilustrada de então, um sentimento anti-tráfico e anti-escravidão. De l'esprit des lois, de Montesquieu, que defendia a ideia de que todos os homens nascem iguais e e que a escravidão era contra a Natureza, tinha sido publicado em 1748.
MARQUES, João Pedro, Combates pela verdade - Portugal e os escravos, Lisboa, Guerra e Paz, 2020, p. 126
terça-feira, 21 de maio de 2024
Não me esqueças
Uma estação para o amor feroz,
O arco reluzente em torno de ténues
Fios de sombra:
Não os esqueças
(....)
O areal tardio onde abandonámos
A língua que estiliza a fala,
Ainda sem confins ou iminências para olhos cansados.
Alguns avanços e abundantes
Os tropeços e amparos,
Levitações que acertaram ao lado o batimento
Dos nossos corações transitórios.
E portanto - não te esqueças:
Sempre certo o sobressalto, a espantosa avaria
Nesses pequenos órgãos
De saldar permanências.
TAVARES, Paulo, Não me esqueças, Órbitas, Porto, Assírio e Alvim, 2023, p. 67.