quinta-feira, 2 de maio de 2024

De repente


Soneto de separação 

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento 
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente 
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante 
De repente, não mais que de repente 

MORAES, Vinicius de, Antologia Poética, São Paulo, Companhia das Letras, 2019, p.112.

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