sexta-feira, 1 de abril de 2022

As curvas aparentes da memória

Marina de Faro 

Mais: o tempo não teima, não se alonga,

antes ondeia como mar doente

e aceita ventos. Os caminhos que o fazem:

fio de seda tecida sem cuidado.


Depois de tantos anos, a memória

rompida de um anel,

mas nesse anel ver cheiros,

nele fulgirem coisas

os alfabetos fáceis de brinquedo.


Mas, seda pelo meio:

feita de bichos leves, sonolentos,

de um perigo de ruir marés e luas.

Anel como das fadas,

dedos de carne firme, os seus póros abertos

a tudo, a tudo, a tudo.

(...)

 

AMARAL, Ana Luísa, Imagias, Gótica, Viseu, 2002, p.18

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