Para enfrentar o mundo grosseiro que a rodeava não tinha, com efeito, senão uma arma: os livros que ia buscar à biblioteca municipal e que eram sobretudo romances; lia-os aos montes, de Fielding a Thomas Mann. Davam-lhe uma oportunidade de evasão imaginária, arrancando-a a uma vida que não lhe oferecia satisfação de espécie nenhuma, mas enquanto simples objectos, também tinham um sentido. Gostava de andar na rua com livros debaixo do braço. Eram para ela o que a bengala era para os dandies do século passado. Distinguiam-na dos outros.
KUNDERA, Milan, A Insustentável leveza do ser, Alfragide, D. Quixote, 32.ª edição, 2015, p.64.
Sem comentários:
Enviar um comentário