Marina de Portimão |
Havia ainda outro jardim o da minha vida
exíguo é certo mas o do meu olhar
são talvez dois pássaros que se amam
um sobre o outro ou dois cães não sei
é sempre a mesma inquietação
este delírio branco ou o rumor
da chuva sobre flancos e barcos
o inverno vai chegar
na palha ainda quente a mão
uma douçura de abelha muito jovem
era o sopro distante das manhãs sobre o mar
e eu disse sentindo os seus passos nos pátios do coração
é o silêncio é por fim o silêncio
vai desabar.
ANDRADE, Eugénio de, Véspera da água, Porto, Assírio e Alvim, 2014, p. 78.
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