Um corpo
estendido
nu
na iminência de ser música
diz o que penso.
O fogo
súbita convulsão da água
sobe
pelas pernas
penetra nos lábios
vacilantes do verão
exausto
e branco
porque entardecia.
O olhar
cai
errante
cão
lambendo
a chama oscilante dos dedos
escassa língua
sobre flancos desertos.
As palavras
tão leves qu nem o ar feriam
nem sequer o ar
as palavras
que se levanta para recusar
(quando aprenderão a morder?)
são a nossa herança.
E o fogo.
ANDRADE, Eugénio de, Véspera da água, Porto, Assírio e Alvim, 2014, pp. 71-72
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