sexta-feira, 3 de junho de 2022

O amor já não é o que era

O amor já não é o que era

concluíu apressadamente o senhor Couto

vindo à tona do sonho de que o poema é feito.

O amor já não é o que era

repete-me a árvore roçagando

hora e horas, entre as folhas perdendo

um qualquer coisa que se juntasse a ela

e a ela acrescentasse uma qualquer lembrança

do que fosse o amor quando era o que era.


Sabe o senhor Couto que não ser o que foi

é tão fatal com ele como com o sentimento

de que avança a falar como se o sentisse?


TAMEN, Pedro, Memória Indescritível, Lisboa, Gótica, 2000, p. 26.

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