sábado, 4 de junho de 2022

Respiro ainda.

Respiro. Respiro ainda. Expiro,

inspiro - e és tu que vagas

no ar que me alimenta, e jogas

o tico-tico surdo que retiro


do dia que terei, e que iluminas

com a luz evidente em que te amo.

O som que ainda ouves, com que chamo

a certeza que não há, mais do que as sinas


que o deus-dará dará ou não dará,

esse é a música, só ela, é a perfeita

que me faz respirar e passará


o negro mau ruído, a porta estreita

ela mesma fechada, e o alvará

da passagem à vida que me espreita.


 TANEM, Pedro, Rua de nenhures, Alfragide Publicações D. Quixote, 2013, p. 63.

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