Nem tão tarde que me farte
nem que me raive de cedo
quando o mundo não tiver
nada mais por descobrir
Quando o amor se acabar
morra com ele o desejo
de ficar a ver as sobras
os restos da vida cheia
parado à beira do rio
onde as águas não descansam
no outro lado milagres
e margens verdes eternas
Enterro os dedos no lodo
quatrocentas gerações
um grande sonho pairando
enquanto o céu se carrega
Ai o destino dos homens
Ai o destino de mim
Corta-se a voz ao prinípio
Tranca o soluço no fim
SARAMAGO, José, Provavelmente alegria, Lisboa, Porto Editora, 2014, p. 62
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