Esplêndia criatura é a tua promessa de amor.
Não sei que lábios a pronunciaram nem que braços
se levantaram para a erguer no ar.
Mas é assim, a promessa entra pela casa
fala todas as línguas e é um homem.
Estranho que o seu rosto seja tão nítido
e no entanto não passe de um desenho
que se transformou na esplêndia criatura.
És feita de espera e não sabes pronunciar
outro verbo que não seja a conjugação
de amar. Que ridícula é essa designação aos
olhos dos móveis tranquilos que te vigiam.
Sorriem dessa tua ânsia por que surja a criatura
esplêndia. Quando virares as costas para a porta
verás que a tua casa abafa gargalhadas
mal contidas. Não sei de nada e espero tudo
- dizes. Nenhum riso te incomoda.
Esplêndia criatura.
JORGE, Lídia, O Livro das tréguas, Lisboa, D. Quixote, 2019, p. 37.
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