quinta-feira, 30 de junho de 2022

Água azul




Altos segredos escondem dentro de água

O reverso da carne, corpo ainda.

Como um punho fechado ou um bastão,

Abro o líquido azul, a espuma branca,

E por fundos de areia e madrepérola,

Desço o véu sobre os olhos assombrados.


(Na medida do gesto, a largueza do mar

E a concha do suspiro que se enrola.)


Vem a onda de longe, e foi um espasmo,

Vem o salto na pedra, outro grito:

Depois a água azul desvenda as milhas,

Enquanto um longo, e longo, e branco peixe

Desce ao fundo do mar onde nascem as ilhas.


 SARAMAGO, José, Provavelmente alegria, Lisboa, Porto Editora, 2014, p. 82

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