há uma melodia que habita rente às palavras e
sai do que as prende à morte. aterra é coruscante e melancólica
como a juventude doente. saber tudo isto em surdina,
numa espiral de saudades a que se deu ouvidos.
ah, coração ingénuo, coração aluado
nos bosques do entardecer, na terra de ninguém,
flutuas na agonia, ficaste um cão de rumos tristes,
um focinho de sangue aveludado no caderno
diário das paixões, quando a música exprime tão densos
remorsos vagabundos de viver assim
e tudo pode ser singelo, furtivo e lancinante
como uma oliveira a arder por dentro do seu silêncio.
MOURA, Vasco Graça, Laocoonte, rimas várias, andamentos graves, Quetzal Editores, 2005, p. 66.
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