Respiras
como se pela garganta
deslizasse todo o azul de Espanha
a noite
a língua do vento
sem outras mãos
outros olhos
para beber no escuro.
Deita-te sobre o meu peito
inclina
até ao chão
as frágeis
hastes da beleza.
As palavras
onde te escondes
altas
passam
passam as águas
dóceis
do verão.
É tempo
já as amoras sangram
é tempo ainda
abre-me as portas do teu corpo
ó meu amor
deixa-me entrar.
Já sobre ti
de aroma em aroma
os lábios todos
caem
nupciais ou mortais os corpos
são para penetrar
lenta
oh
lentamente.
As mãos
sobre a nuca
delicadas.
Sobre as ervas
o leite
espesso do silêncio.
ANDRADE, Eugénio de, Véspera da água, Porto, Assírio e Alvim, 2014, pp. 35-36.
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