Os poemas chegam de longe, não trazem
com eles nem sacos nem malas, pousam
as palavras no chão da estrofe, tentam
arrumá-las na página, dobram-nas como
tudo aquilo que pode caber na mala ou
no saco. Os poemas não têm tempo para
descansar, não fecham o caderno que
ainda tem folhas em branco, procuram
imagens onde elas estiverem, no céu,
na rua, nas paredes do quarto, no armário
de cabides tão estreitos como versos. E
quando os poemas começam a falar, é como
se aqui estivessem estado, sempre, sem
nunca terem saído de ao pé de nós, metendo
dentro de nós tudo o que vemos sair
de dentro deles, para que os deixemos
partir com os seus sacos de palavras
e as suas malas de imagens, até onde
os esperam.
JÚDICE, Nuno, Regresso a um cenário campestre, Lisboa, D. Quixote, 2020, p 49
Sem comentários:
Enviar um comentário