terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Está tanto frio. Se fores capaz, cobre-me de beijos

Deita-te aqui - esta noite, dentro de mim,

está tanto frio. Se fores capaz, cobre-me de

beijos: talvez assim eu possa esquecer para

sempre quem me matou de amor, ou morrer

de uma vez sem me lembrar. Isso, abraça-me


também: onde os teus dedos tocarem há uma

ferida que o tempo não consegue transportar.

Mas fecho os olhos, se tu não te importares, e

finjo que essa dor é uma mentira. Claro, o que


quiseres está bem - tudo, ou qualquer coisa,

ou mesmo nada serve, desde que o frio fique

no laço das tuas mãos e não regresse ao corpo

que te deixo agora sepultar. Não sentes frio, tu,


dentro de mim? Nunca nevou de madrugada no

teu quarto? Que país é o teu? Que idade tens?

Não, prefiro não saber como te chamas.


(seria bom P, ou talvez não)


 PEDREIRA, Maria do Rosário, Poesia reunida, Lisboa, Quetzal, 2012, p. 159.

Sem comentários: