Eu seria o homem e tu a mulher
vestida de tormenta.
Dormirias
no aconchego do mar menos pensado,
diadema de outra luz nos teus cabelos,
e nas mãos remotas
a areia fugitiva
de nós, desertos e felizes.
Viveríamos longe, esquecidos
do tempo, agora, em que éramos escravos
do nosso próprio medo e deste mundo,
sicário absurdo a soldo da morte.
A ilha está em nós
aguardando
que a raiva amadureça e nos rapte.
Eu seria o homem e tu a mulher.
A memória seria uma maçã.
PIQUERAS, Juan Vicente, Instruções para atravessar o deserto - poemas escolhidos, Porto, Assírio & Alvim, 2019, p. 23.
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