Malagueira, Évora |
Procuro a tua imagem nos espelhos
do meio-dia, nos campos em que os rebanhos
se perdem do pastor, nas horas que o sol fere
com as suas setas para que os minutos se soltem
das veias do tempo. E vens ao meu encontro,
com o teu vestido branco, com os teus colares
de pedra, com a tua pele suave como os nenúfares
que os cisnes desejam. Desfaço com os dedos a espuma
indecisa da memória, e encontro a tua boca
húmida, os lábios de onde provei um néctar
de fonte, os olhos que o desejo abre nas manhãs
em que as aves se calam para que a tua voz
atravesse os corredores do amor. E é dentro de mim
que a tua imagem ganha a forma que as minhas mãos
percorreram. E é como se batesse à porta do corpo
que tu me abres, com o lento fogo que arde
no sabor de um abraço, para que eu te diga
que és a flor que nenhuma retórica sonhou. E
entrego-te o coração em que pulsam os sentidos
que partilhamos, os braços que acompanham
o rito da ânsia que nos une, o peito em que bate
o êxtase que nos envolve sob
o perfume do amor.
JÚDICE, Nuno, Regresso a um cenário campestre, Lisboa, D. Quixote, 2020, p. 83.
Sem comentários:
Enviar um comentário