domingo, 16 de janeiro de 2022

Passaporte


Nada é sequer definitivo. Olho o longe e

sei que não permanecem sequer os grandes

versos, feitos de montes e de nunca. Este

aquilo, dito por muitas palavras, envelhece.


Morremos pelo nosso país, desportugueses,

e ressuscitamos demasiado. Amanhã, um dia,

quando esperarmos a devastação, teremos

apenas esperança e nada absolutamente mais.


Camões é uma atracção como o bem e o 

mal. Fernando Pessoa é um homem doente

que empurramos nos transportes públicos.


Eu e nós sabemos que o oceano mudou de

nome quase. Deixámos de possuí-lo, nunca o 

posssuímos e foi nosso, meu e nosso, sempre.


PEIXOTO, José Luís, Gaveta de papéis, 2.ª edição, Quetzal, 2011, p. 23.

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