Moram no teu corpo as palavras
mais belas, todas as que eu digo e todas
as que eu calo, as que vivem na pura
transparência do dia e as que se ocultam
sob o céu da noite, as que tu dizes
quando os olhos se fecham, as que segredas
num intervalo de conversa, as que se abrem
como a rosa, quando ao amor a desperta,
a as que ficam húmidas como a madrugada
em que uma promessa nasce.
Dispo o teu corpo dessas palavras, e
arrumo-as nas gavetas límpidas da memória,
na boca em que um beijo se guarda, nas mãos
que procuram outras mãos, nos ombros nus,
na suavidade de um adeus, nos cabelos que correm
pelas costas como onda na vertigem
da praia, nos braços desenhados na simetria
de um abraço, no rosto que se abandona
numa entrega ao desejo que o procura, nos dedos
soltos à lentidão da língua que os saboreia.
E soletro as palavras mais belas que moram
no teu corpo, contando em cada sílaba os dias
que faltam para te ver.
JÚDICE, Nuno, Regresso a um cenário campestre, Lisboa, D. Quixote, 2020, p- 63
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