quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Tejo que levas as águas

Tejo que levas as águas

Correndo de par em par

Lava a cidade de mágoas

Leva as mágoas para o mar


Lava-a de crimes espantosos

De roubos fomes terror

Lava a cidade de quantos

Do ódio fingem amor


Lava bancos e empresas

Dos comedores de dinheiro

Que dos salários de tristeza

Arrecadam lucro inteiro

Lava palácios vivendas

Casebres bairros da lata

Leva negócios e rendas

Que a uns farta a outros mata


Leva nas águas as grades

De  aço e silêncio forjadas

Deixa soltar-se a verdade

Das bocas amordaçadas.


FONSECA, Manuel, Obra poética, Alfragide, Caminho 11.ª ed., 2011, p. 187.

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