domingo, 6 de fevereiro de 2022

Quantas pessoas caminham contra mim?

Quantas pessoas caminham na

minha direcção? Quantas me

descobrem por entre a multidão

e pousam os seus olhos inteiros

nos meus olhos? Podia acreditar


que entre elas está o homem que

trocaria comigo os dedos sobre a

mesa, uma palavra que fosse gomo

de laranja e poema, o corpo aceso


sob o lençol cansado de mais um

dia. Mas quantos destes rostos de

pedra que me cercam escondem o

seu pelas ruas desta tarde? Quantos

nomes de acaso e de silêncio terei

eu de escutar para descobrir o seu


no meu ouvido? Quantas pessoas

caminham contra mim?



PEDREIRA, Maria do Rosário, Poesia reunida, Lisboa, Quetzal, 2012, p.169.

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