quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

O teu nome

Esta manhã encontrei o teu nome nos meus sonhos

e o teu perfume a transpirar na minha pele. E o corpo

doeu-me onde antes os teus dedos foram aves

de verão e a tua boca deixou um rasto de canções


No abrigo da noite, soubeste ser o vento na minha 

camisola; e eu despi-a para ti, a dar-te um coração

que era o resto da vida - como um peixe respira

na rede mais exausta. Nem mesmo à despedida


foram os gestos contundentes: tudo o que vem de ti

é um poema. Contudo, ao acordar,a solidão sulcara

um vale nos cobertores e o meu corpo era de novo

um trilho abandonado na paisagem. Sentei-me na cama


e repeti devagar o teu nome, o nome dos meus sonhos,

mas as sílabas caíam no fim das palavras, a dor esgota

as forças, são frios os batentes nas portas da manhã.

P


PEDREIRA, Maria do Rosário, Poesia reunida, 2.ª edição, Lisboa, Quetzal, 2013, p.97.

Sem comentários: