segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Novo retrato

(…)

Eu amo esta mulher que vem ao meu encontro

nas manhãs mais puras, nas manhãs em que o vento

atravessa os bosques, nas manhãs em que uma chuva

lenta se converte em música de maré quando

a sua boca me humedece com o seu desejo. E eu viajo

 

na praia da sua pele, provando o sal  o suor

das suas axilas, e ouvindo a sua respiração

descer sobre mim para me dar o brando furor

de todos os sentidos, e e me abrir o caminho

das suas coxas até ao centro do mundo.

 

Esta, a mulher que eu desejo, tem nas suas mãos

a arte da tocadora de uma harpa de asas, e eu voo

com  ela num vagar do lume que o seu corpo acende.

 

JÚDICE, Nuno, Novo Retrato, Regresso a um cenário campestre, Lisboa, D. Quixote, 2020, pp. 66-67.

 

 

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