quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

P Tu não me pertenceste

Tu não me pertenceste - e, se uma vez acreditei que

acontecias dentro do meu corpo, das outras vi-te abraçar a

solidão com tanto ardor que concluí ser a memória quem

te mantinha vivo. O meu coração, contudo, sempre


te pertenceu, e é por isso que agora me custa tanto

respirar longe do teu peito, E mesmo os poemas todos

que escrevi não me pertenceram, porque essa vida

que pulsava no papel levaste-a tu contigo na hora

em que te foste -e a que tenho agora é mais

branca e vazia do que a morte, não é vida nem nada


que eu queira alguma vez que me pertença.


PEDREIRA, Maria do Rosário, Poesia reunida, Lisboa, Quetzal, 2012, p.139.

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