quinta-feira, 31 de março de 2022

De sol a sol

O sol nasceu agora


E a matéria

Da noite

Foi deixada aos deuses do sono

E aos seus auxiliares

No pesadelo.


Lavo o rosto do sol,

Beijo-lhe as crinas, os seus olhos

De animal incendiado.

Levanto-me com o destino marcado

Pelo seu relógio ardente

E atravesso o caos da manhã

Como um atleta

Que vai inaugurar a limpidez do mundo

Com um verso ainda nebuloso

E trôpego.


CARVALHO, Armando Silva, O País das minhas vísceras, s.l., Língua Morta, 2021, p. 307.

quarta-feira, 30 de março de 2022

Os homens são coitados, não sabem disfarçar

ALMEIDA, Germano, Regresso ao paraíso, Alfragide, Caminho, 2015, p. 224

Fortaleza de Portimão













 

Aquela estrela

 (As coisas incríveis eu só as contava

depois de as ouvir do teu corpo, da noite

e da estrela, por cima dos teus cabelos.

Aquela estrela que parecia de propósito para 

[enfeitar os teus cabelos

quando eu ia namorar-te...)


FONSECA, Manuel, Obra poética, Alfragide, Caminho 11.ª ed., 2011, p.138.

Trova do amor Lusíada

Meu amor é marinheiro

quando suas mãos me despem

é como se o vento abrisse

as janelas do meu corpo.


Quando seus dedos me tocam

e como se no meu sangue

nadassem todos os peixes

que andam no mar salgado.


Meu amor é marinheiro.

Quando chega à minha beira

acende um cravo na boca

e canta desta maneira:


- Eu sou livre como as aves

e passo a vida a cantar

coração que nasceu livre

não se pode acorrentar.


Trago um navio nas veias

eu nasci pra marinheiro

quem quiser pôr-me cadeias

há-de matar-me primeio.


Meu amor é marinheiro

e mora no alto-mar

seus braços são como o vento

ninguém os pode amarrar.


Quando chega à minha beira

todo o meu sangue é um rio

onde o meu amor aporta

seu coração - um navio.


Meu amor disse que eu tinha

uns olhos como gaivotas

e uma boca onde começa

o mar de todas as rotas.


Meu amor falou-me assim:

- Ó minha pátria morena

meu país de sal e trevo

meu cravo minha açucena


vale mais ser livre um dia

lá nas ondas do mar bravo

do que viver toda a vida

pobre triste preso escravo.


Eu vivo lá longe

onde passam os navios

mas um dia hei-de voltar

às águas dos nossos rios.


Hei-de passar nas cidades

como o vento nas rias

e abrir todas as janelas

e abrir todas as cadeias


hei-de passar a cantar

pelas ruas da cidade

erguendo na mão direita

a espada da liberdade.


Ó minha pátria morena

meu país de trevo e sal

sou marinheiro e não esqueço

que nasci em Portugal.


Assim falou meu amor

assim falou ele um dia

desde então eu vivo à espera

que volte como dizia.


Eu creio no meu amor

meu amor é marinheiro

quem quiser pôr-lhe cadeias

há-de matá-lo primeiro.


Sei que um dia ele virá

assim muito de repente

como se o mar e o vento

nascessem dentro da gente


como se um navio entrasse

de repente na cidade

trazendo a voar nos mastros

bandeiras de liberdade.


Meu amor é marinheiro

e mora no alto-mar

coração que nasceu livre

não se pode acorrentar.


ALEGRE, Manuel, Praça da Canção, Lisboa, 5.ª edição, D, Quixote, 2015, pp. 97-100.

terça-feira, 29 de março de 2022

Final de tarde



 Muralha de Évora

Abelha no meu quintal

 


PORTIMÃO

GERMANO SANTOS VIDIGAL

Avenida eborense

Escarro e Carrilho levantam Germano Santos Vidigal por baixo dos braços, erguem-no em peso, não queria que estivessem a incomodar-se, e vão sentá-lo numa cadeira. Escarro tem ainda o vergalho na mão, passado ao pulso pelo fiador, já lhe passou a fúria de bater assim, mas dá um berro, Cabrão, e cospe na cara do homem derrubado na cadeira como um casaco que foi despido e  está vazio. Abre os olhos Germano  Santos Vidigal e, por incrível que pareça, o que ele vê é o carreiro das formigas, talvez por ser mais denso no sítio que os olhos no acaso de abrir-se fitam, não admira, o sangue humano é um manjar para as formigas, nem elas, pensando bem, vivem doutra coisa, e ali caíram juntas três gotas de sangue, padre Agamades, e três gotas de sangue fazem uma poça, um lago, um mar oceano. Abriu os olhos, se é isto abrir, umas fendas estreitíssimas por onde a luz mal pode penetrar, e a que entra é de mais, tão viva a dor nas pupilas, sentida apenas por ser dor nova, faca que vem espetar-se onde cem outras estão espetadas e na carne se revolvem...


SARAMAGO, José, Levantado do chão, Círculo de Leitores, 1999, p. 179.                                                         

segunda-feira, 28 de março de 2022

O meu mar






PORTIMÃO

Afastámo-nos de mais

Lemos de mais e escrevemos de mais,

e afastámo-nos de mais - pois o preço

era muito alto para o que podíamos pagar -

do silêncio das línguas. Ficaram estreitas

passagens entre frio e calor

e entre certo e errado

por onde entramos como num quarto de pensão

com um nome suposto. E quanto a 

tragédia, e mesmo quanto a drama moral.

foi o mais que conseguimos.


PINA, Manuel António, Os Livros, Lisboa, Assírio e Alvim, 2003, p. 22.

domingo, 27 de março de 2022

Sobre o caminho

  Nada.


Nem o branco fogo do trigo

nem as agulhas cravadas na pupila

    dos pássaros

te dirão a palavra.


Não interrogues não perguntes

entre a razão e a turbulência da neve

não há diferença.


Não coleciones dejectos o teu destino és tu


Despe-te

não há outro caminho


ANDRADE, Eugénio de, Véspera da água, Porto, Assírio e Alvim, 2014, p. 26.

Cores da natureza



Primavera a despontar em Évora 
 

sábado, 26 de março de 2022

Acordaste-me e sumiste-te

Vieste, meu Amado, acordar-me

do meu sono, e sumiste-te.

No meu coração, nasceste como a Lua

mas, mal olhei para ti, desapareceste.

Tendo tido um vislumbre do teu jardim

não mais tenho paciência para suportar esta existência.

Um gole do teu vinho inibriante

deixou-me perdido de amores e saudoso.

Pode uma casa manter-se de pé

quando as suas fundações foram abaladas?

No caminho do amor muitos são os altos e baixos,

muitas são as uniões e as separações.

Oh, quão interminável parece a jornada

até àquele lugar maravilhoso

aonde a minha paixão me leva.

 

Parece que este poema foi escrito a pensar em ti P


RUMI, O Pequeno livro da vida - o jardim da alma, do coração e do espírito, Alma dos Livros, 2020, p. 70.

Sinalética anti-Covid


 Praia de Alvor

Relaxando com o som da água


 Rio Liz

sexta-feira, 25 de março de 2022

Infelicidade

Atribuo toda esta infelicidade à cegueira com  que deixei afeiçoar-me a vós. Não deveria eu prever que mais cedo acabariam os meus prazeres que o meu amor? Podia eu esperar que fícaríeis toda a vida em Portugal e renunciaríeis à vossa fortuna e ao vosso País para pensardes apenas em mim?

As minhas dores nenhum alívio podem ter, e a lembrança dos meus prazeres enche-me de desespero. Serão então inúteis todos os meus desejos, e será que não mais vos verei no meu quarto com todo o ardor e arrebatamento que me demonstráveis? Mas, ai de mim, iludo-me a mim mesma, e muito bem sei que todas as emoções que me ocupavam a cabeça e o coração eram em vós excitadas apenas por alguns prazeres, e chegavam ao fim tão cedo como eles! Nesses momentos de exaltada felicidade  deveria ter chamado a razão em meu auxílio,  para que moderasse o excesso funesto das minhas  delícias e me anunciasse tudo o que sofro presentemente. Mas eu toda me dava a vós, e não estava em estado de pensar no que poderia envenenar-me a alegria e impedir-me de gozar plenamente as ardentes demonstrações da vossa Paixão. Tão agradada estava de me ver convosco, que não podia pensar que viríeis um dia a estar longe de mim.


Cartas portuguesas de Mariana Alcoforado, Lisboa,Terreiro do Paço Editores, 2013, pp. 38-39.

Palmeiras


Estremoz

Nascemos da sede. Somos palmeiras

que vão crescendo à força de perder

as suas folhas. E os seus troncos são feridas,

cicatrizes que o vento e a luz curam.

Quando o tempo, o que faz e o que passa,

ocupa o coração e o torna ninho

de perda, erige

nele o seu templo, a sua áspera coluna.

 

Por isso as palmeiras são alegres

como os que souberam sofrer em solidão

e se agitam no ar, varrem as nuvens

e entregam nas suas copas

cânticos à luz, fontes de fogo,

leques a Deus, adeus a tudo.

Estremecem como testemunhas de um milagre

que só elas conhecem.

 

Somos como a sede das palmeiras,

e cada ferida aberta para  luz

nos vai tornando mais altos, mais alegres.

Os nossos troncos são perdas. Trono

é a nossa dor. É mau

sofre mas é preciso ter sofrido

para sentir, aninhado no sangue,

o assombro dos sobreviventes

ao ar agradecidos e explodir

de júbilo no meio do deserto.

 

PIQUERAS, Juan Vicente, Instruções para atravessar o deserto - poemas escolhidos, Porto, Assírio & Alvim, 2019, pp. 49-51.

O teu perfume

 

Praia da Rocha 

o teu perfume preso à minha roupa é um lento veneno

nos dias sem ninguém - longe de ti, o corpo não faz

senão enumerar as próprias feridas (como a falésia conta

as embarcações perdidas nos gritos do mar); e o rosto

espia os espelhos à espera de que a dor desapareça.


PEDREIRA, Maria do Rosário, Poesia reunida, 2.ª edição, Lisboa, Quetzal, 2013, p.101,

O teu nome nos meus sonhos

Esta manhã encontrei o teu nome  nos meus sonhos

e o teu perfume a transpirar na minha pele. E o corpo

doeu-me onde antes os teus dedos foram aves

de verão e a tua boca deixou um rasto de canções.


No abrigo da noite, soubeste ser o vento na minha

camisola; e eu despi-a para ti, a dar-te um coração

que era o resto da vida - como um peixe respira

na rede mais exausta. Nem mesmo à despedida


foram os gestos cotundentes: tudo o que vem de ti

é um poema. Contudo, ao acordar, a solidão sulcara

um vale nos cobertores e o meu corpo era de novo

um trilho abandonado na paisagem. Sentei-me na cama


e repeti devagar o teu nome, o nome dos meus sonhos;

mas as sílabas caíam no fim das palavras, a dor esgota

as forças, são frios os batentes nas portas da manhã.


 PEDREIRA, Maria do Rosário, Poesia reunida, Lisboa, Quetzal, 2012, p.97

quinta-feira, 24 de março de 2022

Merlo



Está poisado no cedro e canta apenas
as penas e alegrias nupciais.
Amor e adeus. Encontro e despedida.
Por isso são de luto as suas penas
e o que ele diz está antes das vogais.
Onde o poeta falha ele não erra
só ele sabe a sílaba proibida
só ele canta o código da terra.


ALEGRE, Manuel, Livro de português errante, Lisboa,  Publicações D. Quixote, 2001, p. 37.

Avião, para onde vais?




 Praia de Alvor

Entro no país do teu corpo P


Entro no país do teu corpo, e percorro

o seu litoral até à boca subterrânea que abriga

o desejo da viagem que não precisa de outras

paisagens para lá da colina dos seios e da floresta

dos cabelos. O coração, por vezes, reconhece

o horizonte que atravessas no instante do grito;

e os pássaros calam-se, para ouvir, no ar

húmido da tua voz, as palavras que descrevem

a música do amor com o acento exausto

de um fim de manhã. E abres os olhos para

que eu atravesse a fronteira dos teus sentimentos,

e descubra a sua cor secreta, um reflexo de céu

onde o branco e o azul se confundem, e as

palavra, vivas como corolas de uma nova

primavera, correm num leito de frases

que as tuas mãos desarrumam.

 

JÚDICE, Nuno, Regresso a um cenário campestre, Lisboa, D. Quixote, 2020, P 86.

O céu dos charcos

Há que procurar os passos que daremos

e despedaçar o céu dos charcos.

 

O azul de outra voz, o puro ar,

a pérola de uma dor bem padecida

e a luz animal da alegria.

 

Há que procurar a vida que nos procura,

o despedaçado céu dos charcos.

 

PIQUERAS, Juan Vicente, Instruções para atravessar o deserto - poemas escolhidos, Porto, Assírio & Alvim, 2019, p. 27.

Mais perto do que nunca

Mais perto que nunca está o sol

do coração do tempo, e mais do meu.

neste dia de choro, mas de gritos

vociferados contra a vida crua.


Abro o livro dos anos, passo o rol

dos infernoss fingidos e do céu

que se esgueirava sobre os pardos mitos

iluminados por nenhuma lua.


Se o dia passa, no teu cabelo passa;

e no leite dos montes afagados

hirtos rechaçamos a desgraça


com os beijos comidos, assomados

ao sol do dia que silente abraça

a ventania dos corpos abraçados.

 

TANEM, Pedro, Rua de nenhures,Alfragide Publicações D. Quixote, 2013,p. 1 35

terça-feira, 22 de março de 2022

Canta andorinha


Canta, andorinha: dentro do meu peito bates. Exausta.
Entre veias, vives e vais. O teu destino é bater asas num espaço que não há… 

ONDJAKI, Sonhos azuis pelas esquinas, Editorial Caminho, Alfragide, 2.ª edição, 2014, p.73

Gato tipógrafo


 Portimão

Aparentemente entrelaçados

Praia da Rocha, Portimão

segunda-feira, 21 de março de 2022

Alturas


 Portimão 

Em Deus tudo se assemelha: a tua prece e o canto da rã

 MENDONÇA, José Tolentino, Papoila e o monge, Assírio e Alvim, 2019, p. 92.

O Bosque só



Aqui, a terra é sigilosa

as árvores dão frutos mesmo que não

olhemos para elas. Os seus donativos

ultrapassam os limites da generosidade

e nunca ficam ressentidas com

as nossas viagens. As suas sombras

esperam-nos.

(...)

A Terra, uma fagulha de fogo e um salpico de lama.

(...)

 JORGE, Lídia, O Livro das tréguas, Lisboa, D. Quixote, 2019, p. 15.

Nada te inquiete

Nada te inquiete

nada te assute

tudo passa

Deus não muda

a paciência

tudo alcança

quem a Deus tem

nada lhe falta

só Deus basta 


Santa Teresa in LOPES, Adília, Bandolim, Porto, Assírio e Alvim, 2016, p. 220.

domingo, 20 de março de 2022

Coisas más

... as coisas más que nos acontecem também fazem parte da nossa vida, temos é que ser capazes de ver o que aprendemos de positivo com elas, porque todas as coisas más trazem alguma coisa, temos é que procurá-la.

 ALMEIDA, Germano, Regresso ao paraíso, Alfragide, Caminho, 2015, p. 224.

Azul





 ARRAIOLOS 

Marítima visão


 

Que fazes tu aqui

Que fazes tu aqui

imóvel e sentado

na beira desta cama, 

à beira desta chama

que te terá queimado,

que te terá espalhado

no ar de haraquiri?


Respondes tu que esperas

um qualquer nada vindo

dos mundos das quimeras,

que esse mundo é que é lindo.

E vais dizendo amor,

e vais-te dando pobre:


mendigo do pior,

a manta que te cobre

é um tempo menor.


 TANEM, Pedro, Rua de nenhures,Alfragide Publicações D. Quixote, 2013,p68

sábado, 19 de março de 2022

Praia da Rocha ao fim do dia

Portimão

Interior da Igreja de N. Sra do Pranto



















Dornes

Marina de Portimão


 

Soneto

É preciso saber porque se é triste

é preciso dizer esta tristeza

que nós calamos tantas vezes mas existe

tão inútil em nós tão portuguesa.


É preciso dizê-la é preciso despi-la

é preciso matá-la perguntando

porquê essa tristeza como e quando

e porquê tão submissa tão tranquila.


Esta tristeza que nos prende em sua teia

esta tristeza aranha esta negra tristeza

que não nos mata nem nos incendeia


antes em nós semeia esta vileza

e envenena ao nascer qualquer ideia.

É preciso matar esta tristeza.


ALEGRE, Manuel, Praça da Canção,Lisboa, 5.ª edição, D, Quixote, 2015, p. 148

Let's eat?


 Portimão 

sexta-feira, 18 de março de 2022

Odemira e o rio Mira


Inscrição

não te detenhas

a ponderar

se o empenho de ser

infeliz é a virtude

menor que a solidão.


OLIVEIRA, José Alberto, Rectificação da linha geral, Porto, Assírio e Alvim, 2020, p. 87

quinta-feira, 17 de março de 2022

O meu mundo tem estado à tua espera

O meu mundo tem estado à tua espera; mas

não há flores nas jarras, nem velas sobre a mesa,

nem retratos escondidos no fundo das gavetas. Sei


que um poema se escreveria entre nós dois; mas

não comprei o vinho, não mudei os lençóis,

não perfumei o decote do vestido.


Se ouço falar de ti, comove-me o teu nome

(mas nem pensar em suspirá-lo ao teu ouvido);

se me dizem que vens, o corpo é uma fogueira -

estalam-me brasas no peito, desvairadas, e respiro

com a violência de um incêndio; mas parto

antes de saber como seria. Não me perguntes


porque se mata o sol na lâmina dos dias

e o meu mundo continua à tua espera:

houve sempre coisas de esguelha nas paisagens

e amores imperfeitos - Deus tem as mãos grandes.


PEDREIRA, Maria do Rosário, Poesia reunida, Lisboa, Quetzal, 2012, p. 89.

quarta-feira, 16 de março de 2022

Rebanho


     ÉVORA

Homem

Homem não é nem comida nem remédio, dizia, a gente pode perfeitamente viver sem ter que lhes aturar os abusos e borracheiras.

ALMEIDA, Germano, Regresso ao paraíso, Alfragide, Caminho, 2015, p. 214.

Pormenores farenses




 

"No teu ombro pousada"

No teu ombro pousada, a minha mão

toma posse do mundo. Outro sinal

Não proponho de mim ao que defino:

Que no mínimo espaço desse gesto

se desenhem as formas do destino.


SARAMAGO, José, Provavelmente alegria, Lisboa, Porto Editora, 2014, p. 20

terça-feira, 15 de março de 2022

A minha Biblioteca


uma biblioteca só tem interesse quando olhamos para os livros e percebemos que há uns que ainda não foram lidos, que nos esperam. É isso que me move, o que ainda não foi descoberto, aberto, cumprido.

(…) cativa-me a ideia da possibilidade, da liberdade. Quando tenho muitos livros para ler, tenho escolha. Quanto menos tiver, mais a minha liberdade está confinada. Ela depende dos livros que não são lidos.


CRUZ, Afonso, Síndrome de diógenes, Uma dor tão desigual, Alfragide, Teorema, 2016, pp. 19-20.