Esvoaças junto à pele em pedaços falsificados.
Turvas a outra face das palavras
As interditas e ditas sílaba a sílaba
No teu âmago sombrio
E solitário.
Expulsas a oratória lírica,
A água metafísica das veias do meu corpo.
Exibes sem pudor um pulsar
Clandestino
E fazes de mim, prosaicamente,
Um talho.
Mas as manchas de sangue que espalhas
Sobre os versos não atarem clientes.
Não enaltecem o corpo
Exposto
Num gancho ferrugento
Pingando uma história banal de lantejoulas
E circo.
A luxúria, a pelúcia da carne,
O seu destino repartido em esparsos romances
De cordel
Completam os teus voos de ave
Triste e migratória.
És um músculo a mais na delicada harmonia
Do desejo.
Resoa o eco do teu choro
A um canto da rua escura e sem nome
A que me reduziste.
O som submerso na espessa arquitectura
Do poema
Bate no meu peito
Mas ninguém dirá que tenho
Coração.
CARVALHO, Armando Silva, O País das minhas vísceras, s.l., Língua Morta, 2021, pp. 329-330
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