sexta-feira, 11 de março de 2022

Os resíduos

O ar começa a doer

quando lentíssimos de amor

os resíduos caem

na palha:


a exígua

susbtância da alegria

ou lisa pedra de outono

morre na flor da candeia:


a escuridão invade

o pulso e gota a gota

a loucura

acode branca:


enquanto crescem dentes

à noite solitária

vem a música do sono

na água.


  ANDRADE, Eugénio de, Véspera da água, Porto, Assírio e Alvim, 2014, p. 66

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