quinta-feira, 31 de março de 2022

De sol a sol

O sol nasceu agora


E a matéria

Da noite

Foi deixada aos deuses do sono

E aos seus auxiliares

No pesadelo.


Lavo o rosto do sol,

Beijo-lhe as crinas, os seus olhos

De animal incendiado.

Levanto-me com o destino marcado

Pelo seu relógio ardente

E atravesso o caos da manhã

Como um atleta

Que vai inaugurar a limpidez do mundo

Com um verso ainda nebuloso

E trôpego.


CARVALHO, Armando Silva, O País das minhas vísceras, s.l., Língua Morta, 2021, p. 307.

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