quinta-feira, 24 de março de 2022

Entro no país do teu corpo P


Entro no país do teu corpo, e percorro

o seu litoral até à boca subterrânea que abriga

o desejo da viagem que não precisa de outras

paisagens para lá da colina dos seios e da floresta

dos cabelos. O coração, por vezes, reconhece

o horizonte que atravessas no instante do grito;

e os pássaros calam-se, para ouvir, no ar

húmido da tua voz, as palavras que descrevem

a música do amor com o acento exausto

de um fim de manhã. E abres os olhos para

que eu atravesse a fronteira dos teus sentimentos,

e descubra a sua cor secreta, um reflexo de céu

onde o branco e o azul se confundem, e as

palavra, vivas como corolas de uma nova

primavera, correm num leito de frases

que as tuas mãos desarrumam.

 

JÚDICE, Nuno, Regresso a um cenário campestre, Lisboa, D. Quixote, 2020, P 86.

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