Macio: aquele muro tão rugoso,
de cimento amarelo e muito quente,
as histórias faladas em voz rouca,
e eu sem saber como falar de amor.
E eu sem saber como prever as coisas,
e as coisas já sem ser como as pensava.
Bastando alguns segundos, algum sol
infinitesimal, e o já sem ser.
O cimento amarelo: um pó tão fino,
e o calor como fio insidioso.
Bastando alguns segundos, algum frio,
e o muro mais rugoso que macio,
e o cheiro do caramanchão de rosas:
um cheiro a números e a letras mortas.
AMARAL, Ana Luísa, Imagias, Gótica, Viseu, 2002, p. 19.
Sem comentários:
Enviar um comentário