quinta-feira, 17 de março de 2022

O meu mundo tem estado à tua espera

O meu mundo tem estado à tua espera; mas

não há flores nas jarras, nem velas sobre a mesa,

nem retratos escondidos no fundo das gavetas. Sei


que um poema se escreveria entre nós dois; mas

não comprei o vinho, não mudei os lençóis,

não perfumei o decote do vestido.


Se ouço falar de ti, comove-me o teu nome

(mas nem pensar em suspirá-lo ao teu ouvido);

se me dizem que vens, o corpo é uma fogueira -

estalam-me brasas no peito, desvairadas, e respiro

com a violência de um incêndio; mas parto

antes de saber como seria. Não me perguntes


porque se mata o sol na lâmina dos dias

e o meu mundo continua à tua espera:

houve sempre coisas de esguelha nas paisagens

e amores imperfeitos - Deus tem as mãos grandes.


PEDREIRA, Maria do Rosário, Poesia reunida, Lisboa, Quetzal, 2012, p. 89.

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