segunda-feira, 23 de maio de 2022

acerados sinais

acerados sinais para o desejo,

os bicos do teu peito, quando os mordo,

já me desliza a mão noutro rebordo

e cheiro, provo, apalpo, escuto e vejo


entre o prazer e a sombra algum lampejo,

tropel de sensações em desacordo,

espuma que se forma e corre ao pôr do

sol e ao nascer do sol em cada beijo,


enquanto a tua língua me procura,

me percorre insistentemente e então, de leve,

refaz o seu caminho de saliva,


até que o cego ser se nos mistura

e o seu fulgor eterno, de tão breve,

faz com que nesse instante morra e viva.


MOURA, Vasco Graça, Laocoonte, rimas várias, andamentos graves, Quetzal Editores, 2005, p. 48.

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